A CULTURA DA MANDIOCA E A PRODUÇÃO DE FARINHA NA REGIÃO BRAGANTINA, ESTADO DO PARÁ
Palavras-chave:
Agricultura familiar, Agroindústria rural, Casas de farinha, Desenvolvimento ruralResumo
O artigo analisou o contexto produtivo, tecnológico e socioeconômico do cultivo da mandioca e da produção de farinha na Região Bragantina, no estado do Pará. Foram utilizados dados secundários de fontes oficiais, analisados a partir de métodos estatísticos descritivos, estimação de taxas geométricas de crescimento e análise comportamental de variáveis monetárias (preços e valor da produção), visando uma avaliação conjuntural da produção e do mercado. Os resultados reforçam a importância socioeconômica da mandiocultura, responsável por 61,20% do valor da produção agrícola dessa região em 2022. Entretanto, desde 2015 a produção vem reduzindo acentuadamente, motivada pela retração da área cultivada, queda de produtividade e por conta de fenômenos de natureza socioeconômica e agroclimática, como o envelhecimento da população rural e falta de sucessores, degradação do solo, problemas fitossanitários, mudanças climáticas, deficiência dos canais de comercialização, além do baixo nível de acesso aos serviços de assistência técnica e crédito rural, que impactam negativamente a oferta de farinha de mandioca. Um avanço importante foi o reconhecimento da farinha de Bragança como Indicação Geográfica, na modalidade Indicação de Procedência, no ano de 2021. Esse fato pode representar um ponto de inflexão na trajetória dessa cadeia produtiva local, estimulando a atração de novos investimentos com rebatimentos sobre a produção, competitividade e sustentabilidade. Entretanto, deve-se reconhecer que a IG configura um nicho de mercado, em que a maior parcela dos produtores não poderá auferir diretamente dos benefícios desse diferencial mercadológico. Assim, o futuro dessa cadeia produtiva depende, em grande medida, da estruturação de um ambiente institucional motivador e de políticas públicas que fomentem a produção, adoção de inovações tecnológicas e acesso aos mercados, com maior inclusão e valorização dos agricultores familiares.
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