O RETORNO DOS KAINGANG À TERRA INDÍGENA INHACORÁ APÓS A DESAPROPRIAÇÃO: desafios e possibilidades

Autores

  • Alice do Carmo Jahn UFMS
  • Elaine Marisa Andriolli UFSM
  • Gabriela Manfio Pohia ufsm
  • Jéssica Manzzonetto UFSM
  • Maria da Graça Porciúncula Soler

Resumo

No presente artigo faz-se uma reflexão teórica acerca das implicações que o processo de expropriação da Terra Indígena Inhacorá acarretou à vida dos Kaingang ao retornarem ao seu Território, com destaque à saúde. O estudo faz parte da inserção acadêmica no Programa de Extensão em Desenvolvimento Regional Sustentável desenvolvido nessa TI, localizada no município de São Valério do Sul, Rio Grande do Sul, (RS) – Brasil. Nessa TI habitam cerca de mil e trezentos indígenas que, após terem sofrido a violação de seus direitos territoriais e culturais e a imposição de uma política integracionista, procuram resgatar e manter viva sua tradição, seus saberes e práticas em defesa de uma atenção diferenciada nos diversos aspectos em seu  coletivo, visando a sustentabilidade indígena e o respeito ao seu pensamento cultural. Os Kaingang buscam parcerias para refletir sobre a construção de propostas e caminhos voltados às suas prioridades, como vem acontecendo com a inserção da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Mediante  a aproximação dos saberes interculturais e a convivência entre os interlocutores, a temática saúde é  um dos desafios na perspectiva de uma atenção diferenciada que respeite os saberes e práticas culturais, além da importância de os profissionais de saúde da aldeia aliarem aos seus os saberes culturais do Kuiã, parteiras e dos Kofá Kaingang. Este estudo, potencialmente, propicia a realização de outros que envolvam os indígenas e seus projetos de vida coletiva, respeitando seus saberes tradicionais, sua organização social e o protagonismo Kaingang. Também poderá nortear estudantes e profissionais de diferentes áreas do conhecimento, em especial na condição de um novo campo de estudos e saberes interculturais, gerando produções contributivas para a promoção do desenvolvimento sustentável, revitalização e resgate da cultura indígena.

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Sites:

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Publicado

2017-12-15