Epistème e utopia: Pistas do horizonte

Autores

  • Noa Cykman Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo

O trabalho examina a articulação entre práticas utópicas existentes e epistemologias alternativas ou emergentes. Pressupondo uma transição paradigmática em curso, concomitantemente nos campos societal e epistemológico, como apontam Michel Maffesoli, Viveiros de Castro e Boaventura de Sousa Santos, busca-se identificar parâmetros iminentes de novas relações saber-poder. Partindo da crítica aos cânones epistemológicos do iluminismo e da falência do projeto moderno, constatada na degradação do cenário social e ambiental, a pesquisa explora um novo conceito de utopia (a partir de Santos, Edson Sousa, Fredric Jameson e outros), tida como perspectiva crítica ao presente que fermenta a invenção de alternativas e permite multiplicar possibilidades de futuro. A proliferação de experiências utópicas requer, por parte da teoria, uma reconstrução das margens do conhecimento e do saber, visando trocar o privilégio do locus acadêmico pela extensão da legitimidade, em busca de uma epistemologia que abarque e reflita as diversas experiências e lutas sociais que se travam no mundo contemporâneo, muitas delas sufocadas ou ignoradas pela história ocidental. Produções epistemológicas pós-modernas e pós-coloniais são mobilizadas para desenhar novos caminhos para o conhecimento e sua sistematização, relacionadas a novas formas de sociabilidade que subvertem valores como hierarquia, autoridade, dinheiro e degradação ambiental. Pretende-se, assim, integrar a análise epistemológica e a experiência utópica de modo recursivo, suscitando um tipo de conhecimento que tenha ressonância na utopia e que possa estimular sua construção.

Biografia do Autor

Noa Cykman, Universidade Federal de Santa Catarina

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política na Universidade Federal de Santa Catarina.

Referências

ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. A Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.

BEY, Hakim. Zona Autônoma Temporária. São Paulo: Editora Conrad, 1991.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs, vol. 1. São Paulo: Editora 34, 2011.

DUSSEL, Enrique. 1492: el encubrimiento del Otro. La Paz: Plural Editores, 1994.

ESCÓSSIA, Liliana; KASTRUP, Virgínia; PASSOS, Eduardo (Orgs.). Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.

DELEUZE, Gilles. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2013.

DUSSEL, Enrique. 1492: el encubrimiento del Otro. La Paz: Plural Editores, 1994.

FEYERABEND, Paul. Contra o método. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1993.

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013a.

____________. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2009.

____________. Microfísica do poder. São Paulo: Graal, 2013b.

GUBA, E. G. The Paradigm Dialog. Newbury Park; London; New Delhi: SAGE Publications, 1990.

HABERMAS. Jürgen. O Discurso Filosófico da Modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

HOLLOWAY, John. Fissurar o capitalismo. São Paulo: Publisher Brasil, 2013.

JAMESON, Fredric. As sementes do tempo. São Paulo: Editora Ática, 1997.

LANDER, Edgardo. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

____________. Modernidad, colonialidad y postmodernidad. Revista Venezolana de Economía y Ciencias Sociales, nº 4, octubre-diciembre, 1997.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 2013.

LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

MAFFESOLI, M. O instante eterno: o retorno do trágico nas sociedades pós-modernas. São Paulo: ed. Zouk, 2003.

____________. O Tempo retorna: formas elementares da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

____________. O método 3: O conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 2005.

MORUS, Tomás. A Utopia. Porto Alegre: L&PM, 2014.

NIETZSCHE, Friederich. Gaia Ciência. São Paulo: Ed. Cia das Letras, 2005.

____________. O Crepúsculo dos Ídolos. Rio de Janeiro: Relumé Dumará, 2000.

NOVAES, Adauto (org). O novo espírito utópico. São Paulo: edições SESC, 2016.

ROLNIK, Sueli. Cartografia sentimental: Transformações contemporâneas do desejo. Editora Estação Liberdade: São Paulo, 1989.

RORTY, Richard. Contingência, ironia e solidariedade. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

___________. Habermas, Lyotard e a pós-modernidade. Em: Revista Educação e Filosofia, Uberlândia, jan/jun 1990, pp. 75-95.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2011.

____________. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais, nº63, 2002a, p. 237-280.

____________. Produzir para viver: os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002b.

SOUSA, Edson. Uma invenção da utopia. São Paulo: Lumme, 2007.

STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

Downloads

Publicado

2018-01-23