A questão ambiental e os alinhamentos epistemológico-políticos

uma reflexão a partir da disputa pela Baía de Guanabara

Autores

  • Yana dos Santos Moysés Celso Lisboa

Resumo

O presente trabalho discute sobre os diferentes alinhamentos epistemológico-políticos que giram em torno da questão ambiental. Evidencia-se que esses diferentes alinhamentos representam diferentes formas de dominação e/ou a (re)apropriação da natureza, representam, em si, diferentes projetos políticos para o território. A reflexão sobre o alinhamento epistemológico-político e as categorias nos discursos e nas práticas hegemônicos(as) da sociedade contemporânea, e o (re)pensar por outros alinhamentos e outras categorias de resistência e R- Existência que evidenciem outros saberes, fazeres, outras relações não dicotômicas sociedade-natureza, se dá a partir da análise da disputa pela Baía de Guanabara, evidenciada em 2012, entre os pescadores artesanais e os agentes do Comperj. Nesta reflexão, verifica-se que os agentes do empreendimento, alinhados aos pressupostos do discurso epistemológico hegemônico da ciência e da filosofia modernas, pautada no lócus de enunciação universal, a partir do uso da categoria de desenvolvimento sustentável, constroem um discurso uno, global e consensual. Tecnificam a “questão ambiental” e apagam as diferenças constitutivas do território, a partir da dominação sobre outros povos e sobre a natureza. De outro lado, os pescadores artesanais se aproximam das lutas travadas por outros sujeitos que resistem e R-Existem na América Latina (indígenas e quilombolas) e constroem um discurso ambiental politizado, pautado na diferença, a partir de três categorias-chave: território, identidade e memória. Trazem, assim, uma ressignificação e (re)apropriação social da questão ambiental.

PALAVRAS-CHAVE: 1. questão ambiental. 2.discurso ambiental. 3. alinhamento epistemológico-político. 4. disputa territorial. 5. Baía de Guanabara.

Referências

ARANGO, V. Mapeamento participativo del corregimiento El Valle, Bahía Solano, Chocó, Colombia. Memorias y conocimientos tradicionales del territorio colectivo afrodescendiente de El Valle, Chocó, Colombia. Medellín/ Colombia, enero de 2011.

BOATCÃ, M. A desigualdade social reconsiderada – identificando pontos cegos através de “olhares de baixo”. In: Tabula Rasa. Bogotá/ Colômbia, N. 11: 115-140, julio-diciembre, 2009. Disponível em: http://www.scielo.org.co/pdf/tara/n11/n11a07.pdf

CASANOVA, P. Interdisciplina e complexidade. In: As novas ciências e as humanidades da

academia à política. São Paulo: Boitempo, 2006. p.11-64

CRUZ, V. Lutas Sociais, reconfigurações identitárias e estratégias de reapropriação social

do territó-rio na Amazônia. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia.

Niterói: UFF, 2011.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Tradução: Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo:

Edições Loyola, 2011 [1971].

FURTADO, C. Introdução ao Desenvolvimento: enfoque histórico-estrutural.3 ed, revista pelo

autor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

______. Criatividade e Dependência na Civilização Industrial. São Paulo: CÍRCULO DO LIVRO

S.A., 1978.

HAESBAERT, R. Hibridismo, Mobilidade e Multiterritorialidade numa perspectiva geográfico--cultural integradora. In: Ângelo Serpa. (Org.). Espaços Culturais: vivências, imaginações e representações. 1 ed. Salvador: EDUFBA, 2008, v. , p. 393-419.

______. Território e Multiterritorialidade: Um Debate. In: GEOgraphia. Ano IX, n°17. Niterói/RJ, UFF/EGG, 2007, p.19- 45. DOI: https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2007.v9i17.a13531

______. Identidades Territoriais: Entre a multiterritorialidade e a reclusão territorial (ou: do hibridismo cultural à essencialização das identidades). In: ARAUJO, Federico Guilherme Bandeira de e HAESBAERT, Rogério (org). Identidades e territórios: questões e olhares contemporâneos. Rio de Janeiro: Access, 2007, p.33-56.

KHOURY, Y. Muitas memórias, outras histórias: cultura e o sujeito na história. In: FENELON,

Déa Ribeiro. et al. (Orgs.). Muitas memórias, outras histórias. São Paulo: Editora Olho D´água, 2004, p. 116-138.

LACOSTE, Y. A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Tradução: Marua Cecilia França. 19. ed. Campinas/SP: Papirus, 1988.

LANDER, E. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. In: LANDER, Edgardo (Org.).

A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas.

Colección Sur Sur, CLACSO, Buenos Aires/ Argentina, setembro, 2005, p. 8-23. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624092356/4_Lander.pdf

LEFF, E. Racionalidade Ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira: 2006

______. Saber Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2001.

MASSEY, D. Pelo Espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

MIGNOLO, W. Os esplendores e as misérias da “ciência”: colonialidade, geoploítica do conhecimento e pluri-versalidade epistêmica. In: Boaventura de Souza Santos (org). Conhecimento prudente para uma vida decente: um discurso sobre as ciências revisitado- 2 edição- São Paulo: Cortez, 2006.p.667-709.

POLLAK, M. Memória, Esquecimento, Silêncio. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, Tradução de Dora Rocha Flaksman. 1989, p. 3-15.

PORTO- GONÇALVES, C. A ecologia política na América Latina: reapropriação social da natureza e reinvenção dos territórios. In: Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis UFSC vol.9 n°1 jan/jun Florianópolis, 2012, p.16-50. DOI: https://doi.org/10.5007/1807-1384.2012v9n1p16

______.De saberes e de territórios: diversidades e emancipação a partir da experiência latino-americana. In: GEOgraphia, Revista da Pós- Graduação em Geografia da UFF, Niterói/RJ, Ano VIII – N° 16, p.41-55, 2006. DOI: https://doi.org/10.22409/GEOgraphia2006.v8i16.a13521

______. Apresentação da edição em português. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade

do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, Buenos Aires/ Argentina, setembro, 2005, p. 3-5. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624092356/4_Lander.pdf

QUIJANO, A. Colonialidad del Poder y Clasificacion Social IN: Journal of World-Systems Research, vi, 2, summer/fall, 2000, 342-386 Disponível online: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/se/20140506032333/eje1-7.pdf

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Tradução: Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993.

RAMÍREZ, J. Siete tesis sobre la descolonización de los derechos humanos em Karl Marx: un

diagnóstico popular para evaluar la calidad de la democracia em América Latina.In: Tabula

Rasa. Bogotá - Colombia, No.11: 253-285, julio-diciembre 2009. Disponível em: https://www.

redalyc.org/articulo.oa?id=39617332011

ROUSSEAU, J. Discurso sobre as ciências e as artes. In: Discurso sobre as ciências e as artes:

discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Tradução: Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2010, p. 11-64.

RUA, J. Desenvolvimento, espaço e sustentabilidades. In: RUA, João (org.) Paisagem, Espaço e Sustentabilidades: uma perspectiva multidimensional da geografia. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2007, p.143-194.

SANTOS, M. O retorno do territorio. In: OSAL: Observatorio Social de América Latina. Año 6

no. 16 (jun.2005- ). Buenos Aires : CLACSO, 2005- . --ISSN 1515-3282. Disponível em: http://

bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal16/D16Santos.pdf

SAQUET, M. Abordagens e concepções de território. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

SARLO, B. Um olhar político. In: SARLO, Beatriz. Paisagens imaginárias: intelectuais, artes e

meios de comunicação. São Paulo: EDUSP, 2005, p. 55-63.

SOUZA, M. Mudar a Cidade: Uma Introdução Crítica ao Planejamento e à Gestão Urbanos. 3ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

______. Território do Outro, problemática do mesmo? O princípio da Autonomia e a superação da dicotomia Universalismo Ético versus Relativismo Cultural. In: ROSENDAHL, Zeny & CORRÊA, Roberto Lobato (orgs.). Religião, Identidade e Território. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001, p.145-176.

SANTOS, B. Um discurso sobre as ciências. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

______. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. Tradução: Mouzar Benedito. São Paulo: Boitempo, 2007.

______. Do Pós-Moderno ao Pós-Colonial. E Para Além de um e outro. In: Conferência de Abertura do VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, Coimbra, 2004. URI: http://hdl.handle.net/10316/43227

WALSH, C. ¿Son posibles unas ciencias sociales/ culturales otras? Reflexiones en torno a las epistemologías decoloniales. In: Nómadas. Universidade Central – Colômbia, N. 26: 102-113, abril, 2007. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/1051/105115241011.pdf

ZHOURI, A; LASCHEFSKI, K. Desenvolvimento e conflitos ambientais: um novo campo de investigação. In: ZHOURI, Andréa; LASCHEFSKI, Klemens (Orgs.). Desenvolvimento e conflitos ambientais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 11-31.

Downloads

Publicado

2022-01-14

Edição

Seção

Artigos/Ensaios