Nema

redescrições de tempo, espaço e protagonistas para um Brasil amefricano

Autores/as

  • Guilherme Dantas Nogueira Universidade de Brasília
  • Tânia Mara Campos de Almeida Universidade de Brasília

Palabras clave:

Afrorreligiosidade brasileira, Tradição Calunduzeira, Umbanda, Afro-américa

Resumen

O artigo apresenta e debate a narrativa sobre a vida da Nema, entidade espiritual da Umbanda que foi conhecida via sua incorporação em uma mãe de santo argentina. Objetiva discutir o fato de que sua história, individual e coletiva, encarnada nos tempos coloniais, imperiais e do início da república, desconsiderada pelo Estado-nação brasileiro, vem sendo contada e difundida em terreiros, não apenas no Brasil, também transpondo fronteiras em países para os quais a Umbanda se transnacionaliza na América do Sul. Seus relatos sobre pessoas, seres e cenários ecossociais subalternizados do passado, reunidos pelas águas do Velho Chico, cujo axé tem convivido com a exploração capitalista que sofre desde então, fornecem sentido a lutas atuais por sustentabilidade dos recursos naturais e bem-viver ecológico e, ainda, à projeção de horizontes futuros fora desse padrão de depredação humana e ambiental. A potente narrativa valoriza e aponta para referências outras à historiografia e geografia nacional oficial, bem como é aqui colocada em diálogo com a teoria social latino-americana, mostrando-se crítica à colonialidade, ao neoliberalismo, ao extermínio da biodiversidade, a discriminações de classe, raça, gênero e outras.

Biografía del autor/a

Guilherme Dantas Nogueira, Universidade de Brasília

Pesquisador da Universidade de Brasília. Pós-Doutor e Doutor em Sociologia pela mesma universidade, com estágio doutoral na Universidad Autónoma Metropolitana da Cidade do México. Mestre em Ciências Sociais - Estudos Comparados sobre as Américas, também pela Universidade de Brasília. Alumnus do Marc Claster Mamolen Dissertion Workshop, do Instituto de Pesquisas Afro-Latino-Americanas, da Universidade de Harvard. Como temas centrais de pesquisa, dedica-se ao estudo das religiões afro-brasileiras e suas sociabilidades, papeis de liderança feminina e relações com Estado na América Latina, atravessadas por questões de raça e gênero. Particularmente, interessa-se pelo estudo do Candomblé e da Umbanda, em leitura calunduzeira e chave afro-latino-americanista. Integrante fundador e Coordenador Adjunto do Calundu - Grupo de Estudos sobre Religiões Afro-Brasileiras. Editor da Revista Calundu. Tata Kambondo da Cabana Senhora da Glória - Nzo Kuna Nkos'i.

Tânia Mara Campos de Almeida, Universidade de Brasília

Mestra e doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília-UnB, com pós-doutorado em Representações Sociais pela UnB, pela Université de Provence e pela EHESS (França). É professora do Departamento de Sociologia - UnB, bem como integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres (NEPeM) da mesma universidade. De 2012 a 2016, foi editora-adjunta do periódico "Sociedade e Estado", hoje é sua editora-responsável (desde julho/2020), além de integrar o corpo editorial de várias revistas científicas. É bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil (CNPq). Tem publicações na área das Ciências Sociais e Humanas, com ênfase nos temas gênero, violência, saúde e religião, dentre as recentes: Editora da coletânea Panoramas da violência contra mulheres nas universidades brasileiras e latinoamericanas. Brasília: OAB Editora, 2022. 509p; Autora de "Saúde mental pela perspectiva das ciências sociais". In Sociedade e Estado, v. 35, p. 9-17, 2020; Autora de "Piedade fairies and salem witches". In Sociology International Journal, v. 3, p. 96-100, 2019.

Citas

ANDRADE, U. “A Jurema tem dois gaios: história Tumbalalá”. In: CARVALHO, M. R.; CARVALHO, A. M. Índios e Caboclos: a história recontada. Salvador: EDUFBA, 2012.

BANDEIRA, L. M. ALMEIDA, T. M. C. A transversalidade de gênero nas políticas públicas. Revista do CEAM, v.2, n.1, 36-46, 2013.

BARROS, S. Sociabilidades míticas na Umbanda: identidade étnica e consciência subalterna. Série Antropologia, 433, 2010.

BIRMAN, P. Fazer estilo criando gêneros: possessão e diferenças de gênero em terreiros de Umbanda e Candomblé no Rio de Janeiro. RJ: Ed. UERG, 1995.

BRAGA, L. Umbanda e Magia Branca, Quimbanda Magia Negra. RJ: Spiker, 1941.

BROWN, D. Umbanda: Religion and politics in urban Brazil. NY: CUP, 1994.

CALUNDU. (org.) Revista Calundu: Discriminação, Intolerância e Racismo Religioso, v.2, n.1, 2018.

CARVALHO, J. J. “A economia do axé: os terreiros de matriz afro-brasileira como fonte de segurança

alimentar e rede de circuitos econômicos e comunitários”. In: ARANTES, L.; RODRIGUES, M. (orgs.). Alimento: Direito Sagrado: Pesquisa socioeconômica e cultural de Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiros. Brasília: MDS, 2011.

DAIBERT, R. A religião dos bantos: novas leituras sobre o calundu no Brasil colonial. Estudos Históricos, v.28, n.55: 7-25, 2015.

FLOR DO NASCIMENTO, W. Sobre os Candomblés como modos de vida. Ensaios Filosóficos, V.XIII: 153-170, 2016.

GONZALES, L. A categoria político-cultural de amefricanidade. Revista Tempo Brasileiro, 92/93, 1988.

GONZALES, L. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, 223-244, 1984.

IBGE. Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangélicos, espíritas e sem religião. IBGE, 2012. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo?id=3&idnoticia=2170&view=noticia. Acesso em 05/03/2022.

MAGGIE, I. Guerra de Orixá: um estudo de ritual e conflito. RJ: Zahar, 1975.

MAIA, S. “Os Pankararé do Brejo do Burgo: campesinato indígena e faccionalismo político”. In: CARVALHO, M. R.; CARVALHO, A. M. Índios e Caboclos: a história recontada. Salvador: EDUFBA, 2012.

MOURA, C. F. Figuras de proa do Tocantins e carrancas do São Francisco. Navigator: subsídios para a história marítima do Brasil, 10: 71-89, 1974.

NOGUEIRA, G. D. Tradição Calunduzeira: um conceito diaspórico. Arquivos do CMD, v.7, n.2, 78–90, 2020. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/CMD/article/view/31145.

NOGUEIRA, G. D. A história e seus outros: vida e narrativa de Nema. In: 18º CONGRESSO BRASILEIRO

DE SOCIOLOGIA, 2017, Anais.

NOGUEIRA, G. D. Comunidades de Terreiro na Argentina: Um estudo sobre a relação do Estado com as religiões dos orixás. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Departamento de Estudos Latino-Americanos, Universidade de Brasília. Brasília, p.129. 2014.

NOGUEIRA, G. D. Na Minha Casa Mando Eu: mães de santo, comunidades de terreiro e Estado. Tese (Doutorado em Sociologia) – Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília, Brasília, p.289. 2019.

NOGUEIRA, G. D. NOGUEIRA, N. S. Seu Cangira, deixa a Gira girar: a Cabula capixaba e seus vestígios em Minas Gerais. Revista Calundu, v.1, n.2, 71-90, 2017. Disponível em: https://calundublog.files.wordpress.com/2017/12/05-artigo-calundu-v1n2-guilhermenogueira-e-nilonogueira.pdf.

OLIVEIRA, D. C. A. Refletiu a luz divina: apontamentos sobre a atuação da imprensa durante o processo de legitimação da umbanda como religião (1940-1950). In: II Simpósio Internacional da ABHR – XV Simpósio Nacional da ABHR, 2016. Anais

OLIVEIRA, J. H. M. Entre a Macumba e o Espiritismo: uma análise do discurso dos intelectuais de umbanda durante o Estado Novo. CAOS - Revista Eletrônica de Ciências Sociais, 14: 60-85, 2009.

PINHEIRO, A. O. “Umbandas”: segmentação e luta de representações nas páginas de uma publicação umbandista. Relegens Thréskeia: estudos e pesquisa em religião, v.1, n.1: 36-52, 2012.

QUIJANO, A. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”. In: LANDER, E. A

colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

ROHDE, B. F. Umbanda, uma Religião que não Nasceu: Breves Considerações sobre uma Tendência Dominante na Interpretação do Universo Umbandista. Revista de Estudos da Religião, 77-96, 2009.

RUFER, M. Nación y Condición Poscolonial: sobre memoria y exclusión en los usos del pasado. In: BIDASECA, K. (coord.). Genealogías Críticas de la Colonialidad en América Latina, África, Oriente. Buenos Aires: CLACSO/IDAES, 2016.

SANTOS, J. C. P. Cultura e Arte Popular: processos subjetivos dos carranqueiros de Pirapora-MG. Pretextos: Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, v.1, n.1, 2016.

SEGATO, R. L. A Vida Privada de Iemanjá e Seus Filhos: Fragmentos de um discurso político para compreender o Brasil. Série Antropologia, 73, 1988.

SEGATO, R. L. Cidadania: por que não? Estado e sociedade no Brasil à luz de um discurso religioso afro-brasileiro. Dados: Revista de Ciências Sociais, v. 38, n.3: 581-602, 1995.

SEGATO, R. L. El Édipo Brasileiro: la doble negación de género y raza. Perfiles Del Feminismo Latinoamericano, v. 1, n.3, 2006.

SEGATO, R. L. La Nación y sus Otros: Raza, etnicidad y diversidad religiosa en tiempos de Políticas de la Identidad. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2007.

SILVEIRA, R. O Candomblé da Barroquinha: processo de constituição do primeiro terreiro baiano de Keto. Salvador: Edições Maianga, 2006.

SOUZA, L. M. “Revisitando o calundu”. In: GORENSTEIN, L., CARNEIRO, M. (Org.). Ensaios sobre a intolerância: Inquisição, Marranismo e Anti-Semitismo. São Paulo: Humanitas, 2002, p. 293-317.

SPIVAK, G. Can the subaltern speak? In: NELSON, C., GROSSBERG, L. (orgs.). Marxism and the interpretation of culture. Chicago: UI Press, 1988.

Publicado

2023-09-08