Grafias de vida e morte, e Ishi como um meshwork
Palavras-chave:
grafia, narrativa , biografia, morte, meshworkResumo
A intenção deste artigo é colocar sob suspeita as oposições entre narrativa e conceito, escrita literária e experimento científico, moderno e não moderno, entre a vida e a morte. Com este propósito, em primeiro lugar, eu apresento algumas discussões, principalmente, mas não apenas, antropológicas, sobre narrativas biográficas e, em seguida, apropriando-me do desenho descritivo de Ingold, o meshwork (linhas de vida entrelaçadas. Linhas que são movimentos e não conexão entre pontos como sugere a network) como um conceito eu desenho e analiso o que é contado sobre Ishi. Ishi apareceu faminto e maltrapilho em frente a um matadouro em Oroville. Ele foi levado por Alfred Kroeber para a Universidade da Califórnia e tornou-se personagem de uma biografia sucessivamente reeditada, escrita por Theodora Kroeber. Ele é também um personagem emblemático de disputas artísticas e políticas anticoloniais. Lévi-Strauss, em Tristes Tropiques (1955) conta sobre Ishi sem citar o nome que fora atribuído ao indígena e foi onde o “encontrei”. Ao contar as histórias contadas sobre Ishi pretendo aqui sugerir que biografia é também uma designação inapropriada porque obscurece a morte no conceito englobante de vida – bio- e assim não elucida a sua relação tensa. Com o conceito-desenho do meshwork, estou sugerindo uma grafia que não reitere a redutibilidade do biográfico ao indivíduo como oposto ao coletivo (seja este designado como sociedade ou considerado como um comum) nem opere com as oposições acima mencionadas. Finalmente, eu sugiro, que dobra é um necessário parceiro conceitual do meshwork.
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