Maternidade, Raça e Redenção
uma análise do conto “os porcos”, de Julia Lopes de Almeida
Keywords:
Maternidade, Racismo, Naturalismo, Belle-Époque, Julia Lopes de AlmeidaAbstract
A maternidade e o feminino foram, por muito tempo, termos percebidos como sinônimos, e, na virada do século XIX para o século XX, tal percepção ganhava, ainda, justificativas científicas para embasar essa interdependência. Julia Lopes de Almeida, uma das mais importantes autoras brasileiras nesse período, refletiu e escreveu largamente sobre os temas de forma pessoal, por meio de crônicas, nas quais exprimia suas impressões, opiniões e sugestões. Enquanto ficcionista, criou, por meio de seus vários contos e de seus romances, uma miríade de mães fictícias que nos permitem acessar diversas maternidades e as diversas ânsias que acompanham essa condição. Nesse artigo, pretendemos entender como suas concepções pessoais se relacionam com sua ficcionalização da figura materna no conto “Os porcos” (1903). Além disso, através de uma análise literária do conto, tentaremos demonstrar como o papel materno é trespassado, nessa narrativa, por questões de raça, e em que medida essas questões modificam a maternidade que é permitida à protagonista da história. Por fim, examinaremos como a estética da Literatura Naturalista influencia não apenas o enredo, dada sua premissa determinista, mas também a própria percepção que a voz narrativa constrói sobre a personagem, e como os ideais misóginos e racistas da sociedade do final do século XIX são retratados na história de uma personagem feminina que, desde o início, aparece condenada a um só destino.
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