O delírio de Descartes no Catatau de Paulo Leminski
Resumo
Este artigo busca investigar o aspecto decolonial de Catatau, romance de estreia do escritor paranaense Paulo Leminski, lançado em 1975. No romance, uma única situação cênica se apresenta: postado sob uma árvore do Jardim Botânico de Recife, René Descartes, funcionário do Príncipe Maurício de Nassau, incapaz de aplicar sua lógica cartesiana aos (para ele monstruosos) seres da natureza brasileira, produz um discurso delirante, claramente anticartesiano. De uma forma geral, este artigo volta-se para uma investigação a respeito dos desdobramentos e repercussões gerados pelo contraste entre tais lógicas: de um lado, o pensamento cartesiano do Descartes da história da filosofia; de outro, o pensamento anticartesiano do Descartes de Paulo Leminski. Na medida em que se admite a (ainda que fictícia) presença do filósofo no Brasil como índice de um projeto de colonização – no caso, imposto pela Holanda –, o artigo considera a hipótese de que a experiência de Descartes nos trópicos, bem como o discurso que produz em terras brasileiras, se apresente como uma alegórica representação de um processo de decolonização, através do qual a realidade brasileira não apenas se revela esquiva à imposição de uma quadratura europeia como também demonstra capacidade de perturbar os aspectos ontológicos e discursivos do colonizador que desejasse submetê-la.
Palavras-chave: Leminski; Catatau; Descartes; decolonização; literatura brasileira
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- 2021-01-25 (2)
- 2020-12-21 (1)
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