Nas bordas da autoria: a escrita errática dos cadernos de Maricota (1850 – 1937)

Autores

  • Mariana Mendes USP

Palavras-chave:

Escrita feminina, História das mulheres , Memória, Narrativas

Resumo

O presente artigo analisa a escritura de Maria da Glória Quartim de Moraes (1850 – 1937) formada pelo corpus (cinco cadernos, uma agenda e mais quinze folhas soltas) preservado no Fundo Valdomiro Silveira, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB – USP), pela lente da dupla invisibilidade a que foram relegadas as memórias produzidas por brasileiras nascidas no século XIX. Os textos heterogêneos (relatos, entradas de diário, receitas culinárias, anotação de despesas e máximas) são marcados por dois eixos: a vida conjugal e os assuntos políticos. Por trás da escritura errática de Maricota, como era chamada por familiares e amigos, se revela uma mulher que muito escreveu e que, apesar do seu discurso conservador, desenvolveu uma voz autoral criando no papel um espaço para manifestar suas opiniões em um contexto hostil. O duplo silenciamento pode ser compreendido no engendramento de dois fatores: excluídas do processo formativo da literatura brasileira (SCHMIDT, 2019, p. 65) e rebaixadas como sujeito histórico, político e cultural, mulheres da classe dominante elegem as memórias como gênero textual possível. Sendo as memórias consideradas “escrita mediana, ao alcance de qualquer um, sem valor” (LEJEUNE, 2004, p. 8), a autoria desses textos não se realiza, pois, como observa Foucault, o estatuto de autor se legitima conforme a sociedade e o contexto cultural de uma época. 

 

Referências

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Publicado

2022-08-12

Como Citar

Mendes, M. (2022). Nas bordas da autoria: a escrita errática dos cadernos de Maricota (1850 – 1937). Frontería - Revista Do Programa De Pós-Graduação Em Literatura Comparada, 3(1), 56–73. Recuperado de https://revistas.unila.edu.br/litcomparada/article/view/3488

Edição

Seção

Escritas fronteiriças: conexões culturais às margens da literatura