HIERARQUIZAÇÕES E DESVIOS POSSÍVEIS
MODOS DE TENSIONAR E SE ESQUIVAR DAS NARRATIVAS HEGEMÔNICAS
DOI:
https://doi.org/10.29327/2336496.7.2-5Palavras-chave:
hierarquias, colonialismo, audiovisual, cópia, América LatinaResumo
Entre os inúmeros dispositivos epistêmicos ou práticas políticas que fundamentam os processos opressivos impingidos pela colonização capitalista, destacamos a hierarquização, por ser uma daquelas práticas-conceitos que se apresentam numa roupagem moral, dissimulando assim sua carga de violência. Toda hierarquia sustenta-se em um suposto valor maior, estabelecendo quase uma sinonímia com nossa prática de julgar, um dos pilares fundantes do social e do gnosiológico das culturas ocidentalizadas. O julgamento cria divisões binárias, responsáveis por estruturar um pensamento dicotômico que prevalece até hoje e se baseia, principalmente, na divisão cientificista entre verdadeiro e falso, consequência da partição moral e religiosa entre o bem e o mal. Este trabalho procura refletir sobre as diversas hierarquias escondidas em nossas práticas de viver, relacionar, trabalhar, conhecer, olhar etc. O objetivo é apontar os mecanismos nefastos que transformam nossas diferenças em discriminação, desvalorização e subordinação. A análise proposital de seis exemplos bem díspares entre si desses procedimentos – reflexões sobre o conceito de cópia nos manuscritos mesoamericanos e no seriado She-Ra e as princesas do poder (2018); a questão do "outro" nos audiovisuais A Dupla Jornada (1975, 54') e A Deusa Negra (1978, 95'); bem como a reapropriação em A Prata e a Cruz (2010, 17') e Do Pólo ao Equador (1986, 101') – busca elencar e apontar tentativas de desierarquização, tão necessárias para que seja possível estabelecer negociações mais equitativas nos possíveis relacionamentos internacionais entre as culturas.
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