O REGIME TEMPORAL MODERNO E SEUS PRESSUPOSTOS SUBSTANCIALISTAS
ALINHAMENTOS E TENSÕES COM O PENSAMENTO BRASILEIRO
DOI:
https://doi.org/10.29327/2336496.8.2-13Palavras-chave:
temporalidade moderna, pensamento social brasileiro, teoria sociológicaResumo
Em consideração aos contornos epistemológicos que balizam um rol prestigioso de interpretações do Brasil, o artigo propõe-se realizar uma análise crítica de alguns dos supostos que subjazem as noções de tempo histórico (Hans Gumbrecht) e regime temporal moderno (Aleida Assman). A conjectura do trabalho é que, não obstante o predomínio de um enquadramento substancialista de suas gêneses e transformações, o pensamento social brasileiro lança sugestões promissoras para uma visada da modernidade atenta à dispersão semântica do cronótopo do tempo histórico. A exploração desses insights envolve dois exercícios conjugados: a desestabilização da episteme hegemônica da temporalidade moderna, seja em consideração às suas condições históricas de possibilidade, seja no tocante aos sentidos que lhes seriam inerentes; uma apreciação igualmente crítica da ideia do Brasil como um cenário tributário e tardio de contextos com frequência associados ao advento e à dianteira da modernidade.
Referências
ANDERSON, Benedict. Imagined communities. London: Verso, 1991.
ASSMAN, Aleida. Is Time out of Joint? On the Rise and Fall of the Modern Time Regime. Ithaca and London, Cornell University Press, 2020.
BASTOS, Elide. A construção do debate sociológico no Brasil. Ideias – Revista do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP, v. 4, p. 287- 300, 2014.
BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993.
CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010.
CARDOSO, Fernando H. e FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina: Ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe: postcolonial thought and historical difference. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2000.
CHATTERJEE, Partha. La nación en tiempo heterogéneo y otros estudios subalternos. Buenos Aires: Siglo XXI, 2008.
CONRAD, Sebastian. What is global history? Princeton, NJ: Princeton University Press, 2016.
COSTA PINTO, Luiz de A. Sociologia e desenvolvimento: temas e problemas de nosso tempo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Ubu Editora, 2016.
DAMATTA, Roberto. A casa & a rua. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
DÉPELTEAU, François. “What is the direction of the ‘relational turn’?” In: POWELL, Christopher; DÉPELTEAU, François (Eds.). Conceptualizing relational sociology: ontological and theoretical issues, p. 163-185. New York: Palgrave Macmillan, 2013.
DONATI, Pierpaolo. “Relational sociology and the globalized society”. In: DÉPELTEAU, François and POWELL, Christopher. (Eds). Applying relational sociology: Relations, networks, and society. New York, Palgrave Macmillan, p. 1-24, 2013.
DURKHEIM, Émile. O suicídio. Lisboa: Editorial Presença, 1977.
DURKHEIM, Émile. The elementary forms of religious life. New York: The Free Press, 1995.
DURKHEIM, Émile. The division of labor in society. New York: The Free Press, 1997.
EISENSTADT, Shmuel. Multiple Modernities. Daedalus, vol. 129, n. 1, pp. 1-29, 2000.
ELIAS, Norbert. What is Sociology? London, Hutchinson & Co Ltd, 1978.
EMIRBAYER, Mustafa. Manifesto for a relational sociology. American Journal of Sociology, volume 103, Number 2, p. 281-317, 1997.
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo, Globo, 2001;
FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. São Paulo: Global Editora, 2008.
FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil. São Paulo, Globo, 2006.
FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 2000.
FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: história da sociedade patriarcal no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1996.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991.
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural da amefricanidade. Tempo Brasileiro, n. 92/93, p. 69-82, 1988.
GUERREIRO RAMOS, Alberto. A redução sociológica. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
GUMBRECHT, Hans. Nosso amplo presente. São Paulo: Editora Unesp, 2015.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.
HABERMAS, Jürgen. The theory of communicative action. Volume two. Boston: Beacon Press, 1987.
HALL, Stuart. Da diáspora. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2009.
HARVEY, David. The condition of postmodernity. Cambridge: Blackwell, 1990.
HAROOTUNIAN, Harry. Remembering the historical present. Critical Inquiry, v. 33, p. 471-494, 2007.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1994.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora PUC-Rio, 2006.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
LUHMANN, Niklas. The future cannot begin: temporal structures in modern society. Social Research, v. 43, n. 1, p. 130-152, 1976.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã (Feuerbach). São Paulo: Editora HUCITEC, 1991.
MIGNOLO, Walter. “A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfério ocidental no horizonte conceitual da modernidade”. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber: Eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: CLACSO, p. 71-103, 2005.
MOURA, Clóvis. Escravismo, colonialismo, imperialismo e racismo. Afro-Ásia, pp. 124-137, 1983.
NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. São Paulo: Publifolha, 2000.
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro. São Paulo: Perspectivas, 2016.
OLIVEIRA, Maria da Glória. Espectros da colonialidade-racialidade e os tempos plurais do mesmo. Esboços, volume 30, n. 55, p. 310-325, 2023.
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 2006.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira. “O coronelismo numa interpretação sociológica”. In: O mandonismo local na vida política brasileira e outros ensaios. São Paulo: Alfa-Ômega, 1976.
PARSONS, Talcott. The system of modern societies. Englewood Cliffs: Prentice-Hall Inc., 1971.
POWELL, Christopher and DÉPELTEAU, François. “Introduction”. In: POWELL, Christopher and François Dépelteau (eds.). Conceptualizing relational sociology: Ontological and theoretical issues. New York, Palgrave Macmillan, p. 1-12, 2013.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
PRANDINI, Riccardo. Relational sociology: a well-defined sociological paradigm or a challenging ‘relational turn’ in sociology? International Review of Sociology, volume 25, no. 1, p. 1-14, 2015.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
RODRIGUES, Raymundo Nina. As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Nacional, 1938.
ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Tomo Primeiro. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1949.
ROSA, Harmut. Social acceleration: a new theory of modernity. New York: Columbia University Press, 2013.
SCHWARZ, Roberto. Que horas são? São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
SIMMEL, Georg. “Freedom and the Individual”. In: LEVINE, Donald (ed.). On individuality and social forms. Chicago: University of Chicago Press, p. 217-226, 1971a.
SIMMEL, Georg. “The conflict in modern culture”. In: LEVINE, Donald (ed.). On individuality and social forms. Chicago: University of Chicago Press, p. 375-393, 1971b.
SUBRAHMANYAM, Sanjay. Connected histories: notes towards a reconfiguration of early modern Eurasia. Modern Asian Studies, v. 31, n. 3, p. 735-762, 1997.
TAVOLARO, S. B. F. Retratos não-modelares da modernidade: hegemonia e contra-hegemonia no pensamento brasileiro. Civitas – revista de Ciências Sociais, 17 (3): 115-141, 2017.
TAVOLARO, Sergio B. F. Stasis, motion and acceleration: The senses and connotations of time in Raízes do Brasil and Sobrados e mucambos (1936). Sociologia & Antropologia, 10 (1): 243-266, 2020.
TAVOLARO, Sergio B. F. Interpretações do Brasil e a temporalidade moderna: do sentimento de descompasso à crítica epistemológica. Sociedade e Estado, 36 (3): 1059-1081, 2021.
TAVOLARO, Sergio B. F. Entre substâncias e relações: formação e modernização do Brasil em Raízes e Sobrados (1936). Sociologias, 59: 238-263, 2022a.
TAVOLARO, Sergio B. F. A vida social no Brasil e suas dissonâncias temporais: afinidades de Buarque de Holanda, Prado Jr. e Freyre. Revista Brasileira de Ciência Política, 38: 1-27, 2022b.
TAVOLARO, Sergio B. F. Nos confins do tempo histórico: Representações do Brasil na virada para o século XX. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, 15 (30): 413-441, 2023.
TAVOLARO, Sergio B. F. Intercorrências do tempo no Brasil moderno História econômica do Brasil (1945) e Sobrados e mucambos (1936). Tempo Social, v. 36, n. 1, pp. 189-215, 2024.
TORRES, Alberto. O problema nacional: introdução a um programa de organização nacional. Brasília: Companhia Editora Nacional; MEC, 1978.
TURIN, Rodrigo. País do futuro? Conflitos de tempos e historicidade no Brasil contemporâneo. Estudos Avançados, 36 (105), p. 85-104, 2022.
VIANNA, Oliveira. Evolução do povo brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.
TOURAINE, Alain. Crítica da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994.
VANDENBERGHE, Frédéric. “The relation as magical operator: Overcoming the divide between relational and processual sociology”. In: DÉPÉLTEAU, François (Ed.). The Palgrave Handbook of Relational Sociology. Palgrave MacMillan, p. 35-57, 2018.
WEBER, Max. The protestant ethic and the spirit of capitalism. New York: Cherles Scribner’s Sons, 1958.
WOLF, Eric. A Europa e os Povos sem História. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
ZERUBAVEL, Eviatar. The standardization of time: A sociohistorical perspective. American Journal of Sociology, v. 88, n. p. 1-23, 1982.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista Espirales
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autoras/Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).