v. 4 n. 2 (2020): PORQUE É MUITO LÚDICO VACINAR-SE DE ESPERANÇA
Quatro anos. Quatro volumes. Um quadriênio inteiro.
É isso que estamos entregando com o último número de 2020 da LUDUS SCIENTIAE.
Editar a LUDUS não é apenas uma missão que resolvemos abraçar lá no ano de 2016. Verdadeiramente é a nossa busca pessoal por Um Anel, aquele que a todos governa. Ao mesmo tempo que é muito semelhante a conquista do tesouro guardado pelo dragão Smaug. Ou seja, é viver, criar, escrever uma história com vários personagens que a vivem e a escrevem conosco. Encaramos como um épico, pois, no fim, é o que significa editar uma revista científica, que em certa medida, é sim, fora do convencional.
Não queremos o anel do poder ou os tesouros vindouros para sobrepujar o mundo ou conquistar inigualáveis seres e mitos. Editamos a LUDUS na tentativa de que ela seja o Um Anel para a todos transformar, pois este é o verdadeiro poder do lúdico em nossas vidas científicas. Uma fantasia maravilhosa que se torna uma realidade tangível a cada número.
Por outro lado, ser lúdico é encarar com seriedade que o ano de 2020 foi muito difícil. Um ano de pandemia, no qual tivemos que nos isolar uns dos outros e que tivemos que enfrentar o negacionismo científico, que de tão abstrato e absurdo, machuca e destrói mais que a concretude do vírus físico que nos tira a respiração. Mas nunca vai tirar nosso fôlego!
Desejamos que o lúdico possa ser a vacina transformadora de um ano de esperança. E que a vacina do prazer e do divertimento venha aliada a Ciência para que ao final de 2021 estejamos todos vacinados fisicamente contra a doença e metaforicamente contra a ignorância, que parece teimar em crescer.
Acusamos, sem medo: vivemos um governo genocida. Somos jogadores armados com argumentos claros a favor da vida. Mas não estamos em um jogo no qual nossos personagens podem se recuperar facilmente com algum tipo de elixir ou que renascem automaticamente após o ponto de controle. No jogo da vida real, seres humanos morrem pelo descaso de um presidente contra a vida.
Fazemos questão de dizer isso, porque a ludicidade é também um compromisso. Uma responsabilidade. Uma atitude da qual não podemos abrir mão e devemos encarar com coragem. Não é lúdico nos aproximarmos de 200 mil mortos. Não é lúdico encararmos 200 mil famílias enlutadas. Mas é lúdico nos posicionarmos como pesquisadores, a favor da vida e contra o negacionismo científico.
Nós continuaremos em todas as lutas que virão em 2021. Pois sabemos que pode ser um ano ainda mais difícil. Mas temos que ter a esperança lúdica de um mundo melhor, mesmo que ele não nos apresente como tal. Precisamos pensar assim, pois, é nossa responsabilidade fazê-lo.
Esperança não vem sem luta. E a luta, na forma de substantivo, metamorfoseada de verbo, pronome pessoal de mudança, não vem sozinha. É uma palavra coletiva. Lutemos juntos em todos as semânticas da palavra. Na matemática da luta, um mais um nunca é dois. É infinito. Na ciência da luta, não existe teoria separada da prática. Estejamos cientes da luta. E que a luta seja a ciência.
Em 31/12/2020