AUTORIZAR O ECOCÍDIO

MARX SEM O TRABALHO ABSTRATO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.29327/2282886.8.1-6

Palavras-chave:

Trabalho abstrato, Ecossocialismo, Metabolismo, Ecocídio, Colonialismo Climático

Resumo

Existem leituras das teorias de Marx que reconhecem a centralidade da variável categorial de trabalho abstrato, como existem também as que a desconsideram ou desconhecem. Neste artigo, supor-se-á que os leitores da segunda abordagem fizeram uma escolha racionalmente deliberada, concedendo que entendem as consequências que tal suspenso ou apagamento implica para a coerência da crítica da economia clássica conduzida por Marx. A ausência desta variável no mapeamento da circulação do capital, definido como valor em movimento que se autovaloriza, poderia bem compartilhar, na pesquisa contemporânea em filosofia e nas ciências sociais, um campo de análise parametrizado pelo termo biopoder/biopolítica. Ora, o modo de realização do capital elimina a distinção entre o biopoder e as biopolíticas. Tendência já perceptível no âmbito da pesquisa, nosso objetivo maior é desvendar uma implicação mais grave de consequências. Usar Marx sem o trabalho abstrato equivale a perpetuar um estranhamento sobre o meio ambiente teorizado pelo discurso do antropoceno. Disfarça que sem a extensão prática propiciada pela categoria de trabalho abstrato sua relevância afeta apenas uma fração ínfima da demografia planetária. Defenderemos neste artigo que ao eliminar a categoria de trabalho abstrato, uma fissura entre biopoder e biopolítica se aprofunda, na qual se neutraliza a força crítica para alcançar as raízes materiais de uma catástrofe avisada que, antes de se apresentar como antropocênico, deve se verificar como perpetuação do colonialismo ecocida.

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Publicado

2024-07-30

Como Citar

Madarasz, N. R. (2024). AUTORIZAR O ECOCÍDIO: MARX SEM O TRABALHO ABSTRATO. Revista Espirales, 8(1), 104–128. https://doi.org/10.29327/2282886.8.1-6

Edição

Seção

Dossiê: Biopolíticas decoloniais: leituras latinoamericanas