AUTORIZAR O ECOCÍDIO

MARX SEM O TRABALHO ABSTRATO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.29327/2282886.8.1-6

Palavras-chave:

Trabalho abstrato, Ecossocialismo, Metabolismo, Ecocídio, Colonialismo Climático

Resumo

Existem leituras das teorias de Marx que reconhecem a centralidade da variável categorial de trabalho abstrato, como existem também as que a desconsideram ou desconhecem. Neste artigo, supor-se-á que os leitores da segunda abordagem fizeram uma escolha racionalmente deliberada, concedendo que entendem as consequências que tal suspenso ou apagamento implica para a coerência da crítica da economia clássica conduzida por Marx. A ausência desta variável no mapeamento da circulação do capital, definido como valor em movimento que se autovaloriza, poderia bem compartilhar, na pesquisa contemporânea em filosofia e nas ciências sociais, um campo de análise parametrizado pelo termo biopoder/biopolítica. Ora, o modo de realização do capital elimina a distinção entre o biopoder e as biopolíticas. Tendência já perceptível no âmbito da pesquisa, nosso objetivo maior é desvendar uma implicação mais grave de consequências. Usar Marx sem o trabalho abstrato equivale a perpetuar um estranhamento sobre o meio ambiente teorizado pelo discurso do antropoceno. Disfarça que sem a extensão prática propiciada pela categoria de trabalho abstrato sua relevância afeta apenas uma fração ínfima da demografia planetária. Defenderemos neste artigo que ao eliminar a categoria de trabalho abstrato, uma fissura entre biopoder e biopolítica se aprofunda, na qual se neutraliza a força crítica para alcançar as raízes materiais de uma catástrofe avisada que, antes de se apresentar como antropocênico, deve se verificar como perpetuação do colonialismo ecocida.

Referências

ELSON, Diane. The Representation of Labour in Capitalism. 2 ed. New York: Verso, 2016 (1979).

ESPOSITO, Roberto. Bios. Biopolítica e Filosofia. Lisboa: Edições 70, 2010.

FOUCAULT, Michel. A Vontade de Saber. História da sexualidade. Vol. 1. 13 ed. Rio de Janeiro: Edição Graal, 1999a.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo, Martins Fontes, 1999.

FOSTER, John Bellamy. The Dialectics of Nature: Socialism and Ecology. New York: Monthly Review Press, 2020.

FOSTER, John Bellamy, Hannah Holleman and Brett Clark, “Marx and Slavery”, Monthly Review. Volume 72, Issue 03 (July-August 2020), Jul. 1, 2020. https://monthlyreview.org/2020/07/01/marx-and-slavery/ (Consulta em 12 de abril de 2024).

FOSTER, John Bellamy. “Polêmica com um ambientalismo ingênuo”. Instituto Humanitas – Unisinos. Tradução de Inês Castilho. 21 de julho de 2018. < https://www.ihu.unisinos.br/categorias/188-noticias-2018/581057-polemica-com-um-ambientalismo-ingenuo > (Consulta em 11 de abril de 2024).

FRIOT, Bernard et Frédéric LORDON, En Travail : Conversations sur le communisme. La Dispute, Paris, 2022.

HARVEY, David, Para Entender O capital Livro 1. São Paulo: Boitempo editorial, 2013.

HEINRICH, Michael. An Introduction to the Three Volumes of Karl Marx’s Capital. Translated, by Alexander Locascio. New York: MONTHLY REVIEW PRESS, 2004 [2012].

HORNE, Gerald. O Sul mais Distante. O Brasil, os Estados-Unidos e o Tráfico de Escravos Africanos. Tradução de Berilo Vargus. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

HORNE, Gerald. The Dawning of the Apocalypse. The Roots of Slavery, White Supremacy, Settler Colonialism and Capitalism in the Long Sixteenth-Century. New York: Monthly Review Press, 2020.

LÊNIN, Vladimir Ilitch. Imperialismo, Estágio Superior do Capitalismo. Tradução: Paula Vaz de Almeida. São Paulo : Boitempo Editorial, 2019 [1917].

LINDNER, Kolja, “Introduction”, In : Le Dernier Marx. Kolja Linder éd.. Éditions de l’Asymétrie. Paris, 2019.

LUKÁCS, Georg. História e Consciência de Classe. Estudos sobre a dialética marxista. Tradução de Rodnei Nascimento. São Paulo: Martins Fonte, 2003.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro 1: O processo de produção do capital. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.

MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro 3: o processo global da produção. Edição: Friedrich Engels. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo Editorial, 2017 [1894].

MARX, Karl. Crítica do Programa de Gotha. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012.

MARX, Karl e Friedrich ENGELS, Manifesto Comunista. Organização e introdução por Oswaldo Coggiola. São Paulo: Boitempo Editorial, 1998.

POSTONE, Moishe. "The Current Crisis and the Anachronism of Value: A Marxian Reading." Continental Thought & Theory: A Journal of Intellectual Freedom 1, no. 4 (2017): 38-54.

POSTONE, Moishe. Tempo, Trabalho e Dominação Social. Uma reinterpretação da teoria crítica de Marx. Tradução de Amilton Reis e Paulo César Castanheira. São Paulo: Boitempo editorial, 2014.

REES, W.E. The Human Ecology of Overshoot: Why a Major ‘Population Correction’ Is Inevitable. World 2023, 4, 509-527. https://doi.org/10.3390/world4030032

RICARDO, David. Princípios da economia política e tributação. São Paulo: Lebooks Editora, 2018.

SMALLWOOD, Stephanie. Saltwater slavery: a middle passage from Africa to American

Diaspora. New York: Harvard University Press, 2008.

SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

ZUCMAN, Gabriel. The Hidden Wealth of Nations: the Scourge of Taxa Havens. Translated by Teresa Lavender Fagan. Chicago: The University of Chicago Press, 2015.

Downloads

Publicado

2024-07-30

Como Citar

Madarasz, N. R. (2024). AUTORIZAR O ECOCÍDIO: MARX SEM O TRABALHO ABSTRATO. evista spirales, 8(1), 104–128. https://doi.org/10.29327/2282886.8.1-6

Edição

Seção

Dossiê: Biopolíticas decoloniais: leituras latinoamericanas