O REGIME TEMPORAL MODERNO E SEUS PRESSUPOSTOS SUBSTANCIALISTAS

ALINHAMENTOS E TENSÕES COM O PENSAMENTO BRASILEIRO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.29327/2336496.8.2-13

Palavras-chave:

temporalidade moderna, pensamento social brasileiro, teoria sociológica

Resumo

Em consideração aos contornos epistemológicos que balizam um rol prestigioso de interpretações do Brasil, o artigo propõe-se realizar uma análise crítica de alguns dos supostos que subjazem as noções de tempo histórico (Hans Gumbrecht) e regime temporal moderno (Aleida Assman). A conjectura do trabalho é que, não obstante o predomínio de um enquadramento substancialista de suas gêneses e transformações, o pensamento social brasileiro lança sugestões promissoras para uma visada da modernidade atenta à dispersão semântica do cronótopo do tempo histórico. A exploração desses insights envolve dois exercícios conjugados: a desestabilização da episteme hegemônica da temporalidade moderna, seja em consideração às suas condições históricas de possibilidade, seja no tocante aos sentidos que lhes seriam inerentes; uma apreciação igualmente crítica da ideia do Brasil como um cenário tributário e tardio de contextos com frequência associados ao advento e à dianteira da modernidade.

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Publicado

2024-12-19

Como Citar

Barreira de Faria Tavolaro, S. (2024). O REGIME TEMPORAL MODERNO E SEUS PRESSUPOSTOS SUBSTANCIALISTAS: ALINHAMENTOS E TENSÕES COM O PENSAMENTO BRASILEIRO. Revista Espirales, 8(2), 256–279. https://doi.org/10.29327/2336496.8.2-13