Ajuda externa ao Haiti é solução ou armadilha?

30-10-2025

O Haiti é um dos países mais dependentes de ajuda internacional no mundo. Mas será que essa ajuda realmente ajuda? O artigo de Wilgens Exil, Daniel Pereira Sampaio e Camilla dos Santos Nogueira, publicado na Revista Espirales – Volume 9, analisa três décadas de orçamento público haitiano e revela contradições profundas.

Entre 1991 e 2020, cerca de 25% a 30% do orçamento do país foi composto por doações externas. No entanto, somente 17% desse montante entrou de fato nos cofres nacionais; os outros 83% ficaram sob controle direto de doadores e instituições multilaterais. O resultado é um círculo vicioso. O dinheiro chega, mas retorna em grande parte para os países que o concederam, por meio de contratos, custos logísticos e serviços.

A pesquisa demonstra que, após o terremoto de 2010, por exemplo, bilhões foram prometidos, mas somente 1% do total chegou às organizações haitianas. O restante foi administrado por ONGs internacionais, sem participação efetiva do Estado.

Esse modelo cria dependência estrutural. O orçamento do Haiti se elabora todos os anos, já contando com recursos que não controla. Estados Unidos, França e Canadá são os principais doadores, impondo agendas que muitas vezes beneficiam mais seus próprios interesses do que o desenvolvimento local.

A questão central é provocadora. Quando a ajuda externa se torna essencial para manter o Estado funcionando, ainda podemos chamá-la de ajuda ou ela passa a ser um mecanismo de dominação?

Artigo instigante para conhecer mais sobre a economia do Haiti. Link para o artigo completo.