A educação que atravessa grades: o que revela o estudo de Vanessa Colares e Flávia Wagner

No artigo “Educação de Jovens e Adultos (EJA) para pessoas privadas de liberdade: aproximações e distanciamentos da Pedagogia Emancipatória”, as pesquisadoras Vanessa Colares de Bitencourt e Flávia Wagner, abrem uma janela para um universo pouco conhecido, que é o das salas de aula que existem dentro das prisões brasileiras.

O estudo, desenvolvido na Penitenciária Sul, em Santa Catarina, apresenta números que chamam atenção e ajudam a explicar o desafio. Mais da metade da população prisional brasileira tem baixa escolaridade e 2,2% ainda são analfabetos segundo dados do DEPEN. Enquanto isso, fora das prisões, o país registra sua menor taxa histórica de analfabetismo. A disparidade já seria um alerta, mas o trabalho de Vanessa vai além das estatísticas.

Uma das descobertas mais marcantes é o papel da escola como espaço de humanização dentro da prisão. Professores relatam a emergência de vínculos, escutas e diálogos que contrariam a lógica punitiva do cárcere. Um dos episódios mais fortes narrados por Vanessa e Flavia é o de Ícaro, estudante que, ao descobrir que a filha é autista, encontrou na aula de Biologia seu primeiro entendimento concreto sobre o tema e uma professora disposta a pesquisar mais para ajudá-lo.

O estudo revela também a criatividade dos docentes para aproximar conteúdos da vida cotidiana: de análises de charges a conversas sobre alimentação e até futebol. Ao mesmo tempo, aponta limitações importantes, como a quase inexistência de acesso a livros para pesquisa e a dificuldade de trabalhar a valorização cultural dos educandos, silenciados pela dinâmica prisional.

As autoras argumentam que a educação no cárcere não é um favor, mas um direito. Conforme a autora, é uma das únicas forças capazes de romper ciclos de exclusão. Seu artigo é um convite a enxergar, com profundidade e sem simplificações, o que significa educar neste ambiente hostil.

Link para você ler o artigo completo:
https://revistas.unila.edu.br/espirales/article/view/5064