SEMENTES QUE SUSTENTAM A VIDA: EXPERIÊNCIAS DE CONSTRUÇÕES BIOPOLÍTICAS INSURGENTES NA DEFESA DOS TERRITÓRIOS E DOS COMUNS
DOI:
https://doi.org/10.29327/2282886.8.1-8Palavras-chave:
Sementes crioulas; construções biopolíticas insurgentes; Memória biocultural; TerritórioResumo
A expansão de um modelo de desenvolvimento agrícola de grande escala e uma política econômica baseada nas commodities, notadamente neoextrativista, evidenciam o interesse de expansão do capital transnacional, sobretudo no território latino-americano. Frente a esse contexto, a defesa dos territórios e dos comuns revela seu caráter intrínseco à histórica resistência dos povos originários, camponeses, quilombolas e populações tradicionais na região que, incidido no enfrentamento desse novo padrão de acumulação, propõem projetos políticos baseados em outra biopolítica. Assim, na defesa dos territórios e dos modos de vida, esses diferentes povos constituem um patrimônio biocultural, assentado em uma memória coletiva, que tem fomentado a preservação e a circulação de sementes crioulas, sementes da vida ou sementes da cultura. Ao preservarem suas sementes e, com elas o conhecimento e as relações sociais que as forjam, os povos originários, do campo, das florestas e das águas contrapõem-se à lógica ampliada do capital, que as trata como bens comercializáveis, estéreis e dependentes de insumos e de agrotóxicos. No presente artigo, apresentamos experiências de construções biopolíticas insurgentes baseadas em uma apreensão onto-epistêmica das sementes como sustentáculo da vida e sua centralidade na defesa dos territórios e dos comuns.
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